Erradicada desde a década de 1980, a varíola foi uma das doenças que mais matou no mundo todo. Estima-se que no século 18 cerca de 400 mil pessoas morriam por ano na Europa em decorrência da doença. No século 20, ela vitimou pelo menos 300 milhões de indivíduos no globo[1]. 

Além do alto índice de mortalidade, a doença deixava marcas no corpo e sequelas severas, como cegueira. A seguir saiba tudo sobre a varíola e como ela foi erradicada.

O que é a varíola?

Varíola é uma doença causada pelo vírus Orthopoxvirus variolae.

A infecção começa no sistema respiratório e se espalha para os órgãos linfáticos, e em seguida para a corrente sanguínea, quando forma feridas na pele. 

A manifestação cutânea começa com úlceras na boca e erupções nos membros. Após, estas marcas se espalham pelo corpo e evoluem para bolhas com líquido ao redor das quais se formam crostas, deixando cicatrizes.

Como surgiu a doença?

Não se sabe ao certo a sua origem, mas sabe-se que é milenar. Marcas encontradas na múmia do Faraó Ramsés V, que morreu em 1157 a.C [3] indicam que ele tenha sido contaminado com essa doença. 

Porém, pesquisas mais recentes[4] questionam se teria sido esta doença mesmo, já que as marcas são semelhantes a de outras patologias. 

Recentemente, pesquisadores identificaram um esqueleto viking contaminado pelo vírus.

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Quais os sintomas?

Os sintomas iniciais da varíola são febre e mal-estar, após sua evolução, aparecem vômitos, dores musculares e gástricas.

Na sequência, começam a aparecer manchas e feridas que costumam iniciar na boca e mãos e, após, se espalhar pelo corpo. 

Os primeiros sinais da doença começam a se manifestar cerca de 10 dias após a contaminação. O período de incubação do vírus varia entre 7 a 17 dias. 

Como é a transmissão por varíola?

A varíola é transmitida por meio de gotículas de saliva ou secreção nasal. Isso quer dizer que pode ser pega de pessoa para pessoa em contato muito próximo, já que se expele essas gotículas através da fala. Outra forma de contaminação é pelo ar, após alguém infectado tossir ou espirrar.

A transmissão também pode ocorrer por meio do contato com objetos infectados, como corrimões e maçanetas, por exemplo. A pessoa pode contaminar a mão e acabar levando ela aos olhos ou boca antes de higienizar e contrair o vírus. 

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Qual o tratamento?

Não existe um tratamento específico para a varíola. A doença é tratada com antivirais, antibióticos e remédios para amenizar os sintomas, por isso, o melhor tratamento é a prevenção, através de vacina. 

Quais os tipos de varíola?

Existem basicamente dois tipos da doença, ambas causam lesões na pele: 

  • Varíola maior – Apresenta sintomas graves e têm alto índice de mortalidade, podendo evoluir para forma hemorrágica, quando ocorre sangramento pelas mucosas e na pele, e para a maligna, que é caracterizada por diferentes tipos de lesões na pele, ao invés de formar pústulas elas ficam planas. 
  • Varíola menor ou alastrim – tem sintomas mais leves e é mais rara. 
  • Como é feito o diagnóstico?

    Depois que chega ao estágio mais avançado, com a formação de bolhas com pus e crostas é muito fácil identificar a varíola clinicamente. Mas até então seus sintomas são semelhantes aos de diversos outros vírus e as lesões iniciais na pele podem ser confundidas com a catapora. 

    Para se chegar a um diagnóstico preciso na fase inicial, é necessário colher uma amostra de tecido retirada de uma das lesões e levar para análise em laboratório.

    Se hoje fosse identificado um caso sequer da doença, o mundo todo entraria em estado de emergência em saúde. 

    Quais os riscos da doença?

    O maior perigo da varíola é que ela pode evoluir para quadros graves, como:

  • Artrite e infecções ósseas
  • Inchaço cerebral
  • Infecções oculares
  • Pneumonia
  • Sangramento intenso (no caso da hemorrágica)
  • Infecções naa feridas
  • Convulsões
  • A doença costuma ter sintomas mais graves em pessoas com o sistema imunológico mais frágil, por isso, acomete mais crianças e pessoas imunodeprimidas. 

    Apesar do alto índice de letalidade, cerca de 30%, a maioria das pessoas sobrevive à doença. Mas boa parte fica com sequelas, as mais comuns são cicatrizes na pele causadas pelas lesões e cegueira.

    As mortes geralmente são resultado da resposta inflamatória do organismo, que pode causar falência múltipla de órgãos. 

    Como esta doença foi erradicada?

    O último caso registrado de varíola é de 1978, no Reino Unido. Uma médica que trabalhava no mesmo corredor onde se manipulava o vírus em um hospital o pegou acidentalmente e não resistiu. 

    Mas a última transmissão natural foi registrada na Somália, em 1977 [1]/ A Organização Mundial de Saúde (OMS) a considerou erradicada então, em 1980.

    O principal responsável pela erradicação do vírus foi a vacina desenvolvida pelo inglês Edward Jenner, a partir das lesões da doença em uma vaca.  

    Essa invenção é considerada a descoberta mais importante da história da saúde pública no mundo. 

    A varíola permaneceu ativa em todos os continentes por mais de 200 anos até ser erradicada. Sua redução foi gradativa e, mesmo após a origem da vacina, ocorriam surtos endêmicos, ou seja, específicos em algumas regiões, que colocavam o mundo em alerta.[4]

    Varíola no Brasil

    No Brasil, há registros históricos que comprovam que a varíola já existia desde o período colonial. A doença, aliás, dizimou muitos índios e escravos.

    Campanhas de vacinação contra a varíola, organizadas pelo Ministério da Saúde, deram início à erradicação da doença no Brasil.

    Mas apesar da obrigatoriedade da vacinação, desde o século 19 no país, não havia efetividade na imunização, o que levou o Brasil a levar mais tempo para dar fim à doença. Isso exigiu que o então diretor de saúde pública Oswaldo Cruz tomasse medidas mais radicais. 

    Um projeto de lei enviado por ele ao Congresso dava amplos poderes às autoridades sanitárias do país, o que incluía a penalização com multas a quem não se imunizasse. Além disso, o país passou a exigir comprovante de vacinação para se fazer matrículas na escola, se assumir cargos públicos e até mesmo para autorizar casamentos e viagens. 

    A medida gerou protestos por parte de vários setores da sociedade, que cobravam o direito de liberdade de escolha. Mesmo assim, o projeto foi aprovado no Congresso. O último caso no Brasil foi registrado em 1.972. 

    A varíola pode voltar?

    Existem amostras do vírus da varíola guardadas em segurança máxima em um laboratório dos Estados Unidos e um na Rússia. Há uma discussão global sobre se manter ou eliminar essas amostragens.

    A corrente defensora diz que nada garante que um dia a doença não vá voltar e as amostras são muito importantes para se prosseguir com estudos e pesquisas. Porém, há um temor que um dia ocorra um acidente laboral com estas amostras ou que caiam nas mãos de bioterroristas[5].

    Há ainda o medo de que um dia terroristas possam recriar o vírus em laboratório. E há quem acredite que o degelo no Ártico possa trazer à tona corpos com o vírus ainda ativo, isso porque partículas virais foram isoladas em múmias egípcias.

    Mas teorias da conspiração à parte, o fato é que se hoje fosse descoberto um caso de varíola no mundo, os procedimentos seriam semelhantes aos que recentemente o mundo viu com a propagação do coronavírus: colocar o paciente em isolamento, assim como todas as pessoas com quem ele teve contato.

    Como a vacina já existe, teria de ser produzida em larga escala e aplicada em um primeiro momento nas comunidades que estivessem mais ameaçadas. 

    Estudos científicos mostram que quando a imunização foi aplicada em pessoas já infectadas, mas nos primeiros dias de incubação, mostrou resultado eficaz para amenizar os agravos. 

    Há vacina para varíola disponível hoje?

    A vacina para varíola não faz mais parte dos calendários de imunização, porque a doença está erradicada. Logo, os riscos de efeitos colaterais seriam maiores do que as chances de contaminação.

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    médica e paciente sorrindo e se olhando

    [1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Var%C3%ADola

    [2]https://bibliotecadigital.butantan.gov.br/arquivos/63/PDF/4.pdf 

    [3] https://science.sciencemag.org/content/369/6502/eaaw8977

    [4] https://brasil.elpais.com/brasil/2016/12/08/ciencia/1481196001_087293.html

    [5] http://bvsms.saude.gov.br/bvs/is_digital/is_0203/pdfs/IS23(2)060.pdf