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O que saber sobre o surto de sarampo em São Paulo?

Marcia Lima Dantas

Por Marcia Lima Dantas

Infectologista - CRM-SP 136308 / RQE nº 72612

O sarampo voltou a ser motivo de preocupação entre os brasileiros após a manifestação de casos em Roraima e no Amazonas no ano de 2018. Após isso, também foram confirmadas ocorrências nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Rondônia.

De repente, a doença que no ano de 2016 foi considerada erradicada nas Américas pela Organização Mundial da Saúde, voltou a fazer vítimas, mobilizando o Ministério da Saúde a reforçar ainda mais sua campanha de vacinação contra o sarampo. Segundo dados divulgados em agosto de 2019 pelo Ministério da Saúde, foram registrados, apenas no Brasil, 1.388 casos, sendo que a maioria está concentrada no estado de São Paulo.

O que é sarampo?

Causada pelo vírus Morbillivirus, o sarampo é uma doença infecciosa, transmissível e altamente contagiosa, visto que se espalha pelo ar através de gotículas propagadas por tosses e espirros. Desta forma, a chance de pessoas que ainda não foram imunizadas sejam infectadas é extremamente alta.

Por muito tempo, o sarampo era um dos principais responsáveis pelos altos índices de mortalidade infantil, cenário que nunca deixou de existir em países subdesenvolvidos. Com as constantes campanhas de vacinação contra o sarampo, a doença foi se tornando cada vez mais rara, razão pela qual a sua volta repentina em meados de 2017 causou surpresa.

Por que o sarampo voltou?

Desde 2018, a OMS emite alertas sobre a volta do sarampo em alguns países das Américas, incluindo: 

  • Brasil; 
  • Argentina; 
  • Equador; 
  • Canadá; 
  • Estados Unidos; 
  • Guatemala; 
  • México; 
  • Peru; 
  • Antígua e Barbuda; 
  • Colômbia;  
  • Venezuela.

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O que acontece é que países como a Venezuela, por exemplo, deixaram de vacinar a população por questões políticas e econômicas. Além disso, a cobertura vacinal no Brasil para doses de reforço foi muito abaixo da meta esperada para todas as vacinas do Calendário Nacional de Imunização, inclusive a tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola.

A segunda dose da vacina não atinge a meta desde o ano de 2012 enquanto, em 2016, apenas 76,74% das crianças foram imunizadas. O sarampo é altamente contagioso, então seria preciso que pelo menos 95% das pessoas tivessem sido vacinadas no Brasil para que a doença não surgisse.

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Por que as pessoas estão tomando menos vacinas?

A atual despreocupação com a proteção vacinal seria fruto do próprio sucesso das vacinas.  As pessoas não se sentem mais ameaçadas porque não convivem mais com essas doenças hoje em dia.

Por isso, não há porque ter medo ou acreditar que elas ainda existam, ocasionando maior descuido. No entanto, devemos nos lembrar das filas gigantescas para se vacinar contra febre amarela recentemente, e o motivo é claro: as pessoas estavam se sentindo ameaçadas.

Por que aderir à campanha de vacinação contra o sarampo?

A vacina contra o sarampo é a única maneira de prevenir a doença que se apresenta de forma grave e pode matar.

O Ministério da Saúde trabalha com o conceito de imunização rebanho, ou seja, quanto maior o número de pessoas vacinadas, maior é a barreira criada para proteger aqueles que por algum motivo não podem tomar vacinas. Sendo assim, a decisão da não imunização causa um impacto imensurável.

Quem já tomou duas doses durante a vida não precisa se preocupar, mas em caso de surtos, ou mesmo durante campanhas de reforço, não custa tomar uma picada adicional. O importante é seguir as recomendações das OMS. As duas doses da vacina garantem uma proteção de mais ou menos 90% contra o sarampo e a terceira pode melhorar ainda mais nossas barreiras imunológicas.

Quem precisa tomar a vacina de sarampo?

A vacina está à disposição em todos os postos de saúde públicos ou unidades particulares e, se você se encaixa em uma das condições abaixo, é preciso se proteger.

Crianças de 12 meses a 5 anos

Crianças nesta faixa etária devem tomar a primeira dose ao completar um ano de idade, sendo que a tríplice viral protege contra o sarampo, caxumba e rubéola. Ao completar um ano e três meses aplica-se a tetra viral, um reforço da anterior mais a vacina contra a catapora.

Crianças e adultos até 29 anos

Todos os indivíduos de 1 a 29 anos de idade devem ter duas doses de vacina contra o sarampo para serem considerados protegidos. Caso tenha tomado só uma, como era feito no passado, outra dose é necessária.

Adultos de 30 a 49 anos

Adultos entre 30 e 49 anos de idade sem comprovação de nenhuma dose, devem receber pelo menos a vacina tríplice viral (SCR), que protege contra o sarampo, caxumba e rubéola.

Quem não lembra se já tomou a vacina

Caso você tenha perdido a sua carteira de vacinação e não lembra se já foi imunizado contra o sarampo, é preciso tomar a vacina. Porém, você precisa preencher os critérios citados acima. O Ministério da Saúde alerta que não existe nenhum risco em tomar uma segunda dose contra a doença.

Profissionais da saúde

Profissionais de saúde como médicos, enfermeiros e dentistas, independentemente da idade, devem ter registradas duas doses válidas a partir de um ano de idade e com pelo menos um mês de intervalo entre elas da tríplice viral.

Viajantes

A Opas e a Organização Mundial da Saúde recomendam que todos os viajantes que não apresentem prova de vacinação ou imunização recebam a vacina de sarampo e rubéola, preferencialmente a vacina tríplice viral. A dose deve ser aplicada pelo menos duas semanas antes do deslocamento para áreas onde a transmissão do sarampo foi documentada.

Leia também: Cuidados com a saúde antes, durante a após viajar de avião

Quem não deve tomar vacina de sarampo?

Por ser feita com o vírus atenuado, a vacina contra o sarampo é contraindicada para:

  • Grávidas;
  • Pessoas com imunidade comprometida;
  • Quem tem acima de 49 anos;
  • Crianças com menos de 6 meses;
  • Pacientes com suspeita da doença.

Onde posso tomar a vacina contra o sarampo?

O Ministério da Saúde prorrogou a campanha de vacinação até o dia 31 de agosto em todos os postos de saúde. Contudo, se você perdeu o prazo, saiba que ainda existem maneiras de se imunizar contra a doença.

A vacina está disponível em clínicas particulares e o preço fica em torno de R$120, porém os custos podem variar dependendo do local. A Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo também garante que a vacina continua disponível em todas as unidades básicas de saúde, basta se dirigir à que for mais próxima da sua casa.

A vacina emergencial substitui a obrigatória?

As vacinas da campanha de emergência não substituem a dose oficial contra o sarampo. A recomendação é que os já vacinados na infância recebam dose extra em caso de bloqueio, já que a imunização exige aplicação de duas vezes.

Não há problemas em receber dose a mais já que a vacina é segura. Até nove meses, a criança permanece com os anticorpos que recebe da mãe e, se a mulher não estiver devidamente protegida, torna-se um risco para o bebê.

Não posso me vacinar, e agora?

A vacina é a melhor maneira de se manter seguro contra o sarampo, mas se por algum motivo você não puder fazer parte do programa de imunização, existem algumas precauções que você pode tomar. A primeira é garantir que todos à sua volta que podem ser vacinados façam isso, essas pessoas servirão de barreira para você.

Por fim, evite aglomerações e locais fechados, o sarampo é altamente contagioso e, nestes locais, é mais propício que haja contaminação. Se você pretende engravidar, o ideal é verificar na sua carteira de vacinação se você está com todas as doses da vacina em dia.

Quais são os sintomas do sarampo?

Alguns dos sintomas iniciais apresentados pelo paciente são:

  • Febre acima de 38,5°C;
  • Dor de cabeça;
  • Manchas vermelhas, que surgem primeiro no rosto e atrás das orelhas e se espalham pelo corpo em seguida;
  • Tosse;
  • Coriza;
  • Conjuntivite;
  • Manchas brancas que aparecem na mucosa bucal poucos dias antes do aparecimento das manchas vermelhas.

É de extrema importância que, ao menor sinal dos sintomas, você procure um médico e não utilize medicamentos por conta própria.

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Qual é o tratamento de sarampo?

O paciente é isolado e apenas os sintomas são tratados, ou seja, não existe tratamento específico para a infecção por sarampo. O tratamento com antibiótico é contraindicado, exceto se houver indicação médica devido à ocorrência de infecções secundárias.

Recomenda-se a administração de vitamina A em crianças, desde que com avaliação clínica e/ou nutricional por um profissional de saúde, para redução da morbimortalidade e prevenção de complicações. Para os casos sem complicação, é recomendado:

  • Manter-se hidratado;
  • Alimentação saudável;
  • Suplementação de vitamina A;
  • Ingerir os medicamentos para febre e náuseas prescritos pelo médico.

Quais as reações da vacina do sarampo?

A certificação da vacina contra o sarampo é feita pela Anvisa e pelo Instituto Nacional de Controle e Qualidade em Saúde, unidade científica da reconhecida Fundação Oswaldo Cruz. Cabe a eles assegurar a eficácia bem como a segurança da vacina.

As reações da vacina são muito sutis, sendo comum apresentar dor e vermelhidão no local da aplicação, além de febre leve. Entretanto, o Ministério da Saúde alerta que pessoas com alergia à proteína do leite e crianças com idade inferior a seis meses devem tomar as vacinas produzidas pelos laboratórios Fiocruz/Bio-Manguinhos ou Merck Sharp Dohme.

Caso se enquadre em um desses casos, não se esqueça de informar o profissional da unidade de saúde.

Quais são as complicações causadas pelo sarampo?

O sarampo é uma doença grave que pode deixar sequelas por toda a vida. Além disso, pode potencializar outras doenças, levando o paciente à óbito.

Estão mais suscetíveis a desenvolver complicações as grávidas, crianças recém-nascidas, pessoas gravemente desnutridas e aqueles com sistema imunológico comprometido. Inclusive, são estas pessoas que estão impedidas de tomar a vacina, o que torna ainda mais importante a imunização no entorno delas.

Atenção se apresentar febre por mais de três dias, o aparecimento das erupções cutâneas é um sinal de alerta e pode indicar complicações como infecções respiratórias, otites, doenças diarreicas e neurológicas. Na ocorrência dessas complicações, a hospitalização pode ser necessária, principalmente em crianças desnutridas e imunocomprometidos.

Para crianças

  • Pneumonia: causa comum de morte por sarampo em crianças pequenas;
  • Otite média aguda: pode resultar em perda auditiva permanente;
  • Encefalite aguda: 10% destas podem morrer;
  • Morte: em decorrência de complicações.

Para adultos

É possível que adultos infectados por sarampo também desenvolvam quadros de pneumonia.

Gestantes

Mulheres em idade fértil (10 a 49 anos) não vacinadas antes da gravidez podem apresentar parto prematuro e o bebê pode nascer abaixo do peso.

A vacina contra sarampo causa autismo?

Em um cenário como o atual no qual houve um grande aumento no número de casos, é de extrema importância desmentir rumores acerca da vacina. Muitos estudos já publicados por membros respeitados da comunidade científica negam que a vacina contra o sarampo tenha qualquer relação com o autismo em crianças.

O Ministério da Saúde certifica-se de que a vacina é segura antes de levar até os postos e disponibilizar para a população. Sendo assim, a imunização não desencadeia nenhum outro tipo de doença e é a única forma de evitar uma evolução no número de casos.

Leia também: Autismo: como conviver com o diagnóstico?

Os movimentos antivacinas têm influência na volta do sarampo?

Os movimento antivacina podem ter influência na volta dessas doenças, já que adotam crenças de que a poliomielite não existe. Com a evolução da internet e mídias sociais, é possível divulgar com facilidade e rapidez essas ideias.

Isso pode refletir de forma desastrosa no Brasil, como estamos vendo com o aumento dos casos de sarampo. Existem inúmeras evidências científicas sobre o benefício da vacina, mas os funcionários de saúde e o governo devem se empenhar para demonstrar à população não só as vantagens, bem como a necessidade da imunização.

Caso necessário, não deixe de marcar presença na campanha de vacinação contra o sarampo. A imunização é a única maneira de erradicar a doença e salvar vidas.

[1] A evolução do sarampo no Brasil e a situação atual

[2] O ressurgimento do sarampo: uma doença evitável

[3] Revisão de dados da epidemiologia e etiologia do sarampo e subsídios para a vacinação contra a doença

[4] Sarampo de volta ao mapa

[5] Orientações para vacinação contra sarampo

[6] Situação do sarampo no Brasil - 2019

[7] Vacinação contra o sarampo - 2019

[8] OMS: casos de sarampo quase triplicam no mundo durante o primeiro semestre

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Quem escreve

Marcia Lima Dantas

Infectologista - CRM-SP 136308 / RQE nº 72612

Atualmente, faz parte da Sociedade Brasileira de Infectologia e é professora na Faculdade de Medicina de Prudente na disciplina de emergências. Além dos hospitais Iamada, HRPP e Athia Saúde, também atende em sua clínica particular, a Life Clinic.